Workshop na Embrapa vai discutir a implantação de um método inovador de controle de pragas

Cientistas brasileiros, africanos e ingleses estarão reunidos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, uma das 47 unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, em Brasília, DF, nos dias 21 e 22 de setembro de 2012, para discutir a implantação de uma metodologia inovadora de controle biológico de pragas chamada “push-pull”, ou “atrair-repelir”, em português. O método tem como base o sistema de rodízio de culturas agrícolas, mas com foco diferente do convencional. Neste caso, o consórcio de lavouras visa não apenas aumentar a produtividade, mas principalmente, combinar plantas com aptidão natural para controlar pragas agrícolas a partir de seus semioquímicos (substâncias químicas utilizadas na comunicação entre os seres vivos na natureza) ou características físicas, por exemplo, sem a necessidade de usar agrotóxicos. 

O método é inovador e o segredo está em reunir, em uma mesma lavoura, plantas com capacidade natural para repelir e outras capazes de atrair os insetos-praga, impedindo assim, a sua reprodução. O único sistema "push-pull" atualmente em uso foi desenvolvido pelo Centro Internacional de Fisiologia e Ecologia de Insetos (Icipe, sigla em inglês), no Quênia, em parceria com pesquisadores do Rothamsted Research, no Reino Unido. Este sistema é utilizado para controle de mariposas na cultura do milho e está alcançando resultados excelentes com os pequenos produtores do Quênia. 

O objetivo da Embrapa é transferir essa tecnologia para pequenos agricultores da região nordeste do Brasil, de forma a auxiliá-los no controle da pior praga da cotonicultura no país: o bicudo do algodoeiro. “É um método natural e supereconômico de controle de insetos e, por isso, pode ser uma ótima opção para a agricultura familiar”, afirma o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Miguel Borges.

Ele esteve no Quênia em março deste ano e ficou muito impressionado com os resultados. “Em algumas propriedades com menos de um hectare, a produção de milho chegou a pular de 20 para 200 kg, depois da implantação da metodologia “push-pull”, comenta. Em uma das propriedades visitadas pelo pesquisador e a que mais chamou a sua atenção, a plantação de milho era intercalada à de Desmodium, uma leguminosa rasteira capaz de fixar nitrogênio do solo, ao mesmo tempo em que controla plantas daninhas e repele mariposas-pragas do milho. 

Além disso, em volta da lavoura, foi plantado capim-elefante (napier grass), que tem a capacidade natural (semioquímicos) de atrair outras espécies de mariposas para reprodução. “As folhas de napier grass liberam uma secreção que prende as larvas limitando sua capacidade de locomoção e alimentação, o que aumenta a mortalidade”, explica o pesquisador”..

Os resultados obtidos nas pequenas propriedades africanas mostram que a produção com base nessa metodologia pode ser feita sem nenhum uso de produtos químicos. “O sistema é inteligente, barato e altamente sustentável”, ressalta Borges, lembrando que as sobras da produção são destinadas à alimentação dos animais, como cabras e ovelhas, impactando na qualidade da carne e do leite.

Conhecimentos de semioquímicos são determinantes para definir as culturas utilizadas no consórcio

A adaptação da tecnologia para o Brasil está sendo feita pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) e pela Embrapa Algodão (Campina Grande, PB) com um grupo de pequenos agricultores da Paraíba. A parceria conta ainda com o apoio do Icipe e do Rothamsted Research, com recursos da Plataforma “Africa-Brazil Agricultural Innovation Marketplace.

O projeto começou em 2011 e continua até 2013. Além da visita às propriedades rurais do Quênia, foram realizadas também visitas técnicas e reuniões com os produtores de algodão de Campina Grande para avaliar a melhor forma de implantar a tecnologia “push-pull” em prol do controle biológico do bicudo, além de identificar as áreas com maior incidência desta praga.

Segundo Borges, os conhecimentos sobre semioquímicos da equipe de pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia estão sendo determinantes para definir as lavouras a serem consorciadas com o algodão e a relação com os inimigos naturais dessa praga.

A equipe da Unidade desenvolve essas pesquisas desde a década de 90 com foco no monitoramento e controle das pragas na lavoura. Os semioquímicos ocupam hoje cerca de 30% do mercado de biopesticidas no mundo e, no Brasil, está em franca expansão, com mais de 20 produtos registrados e outros em fase de registro.

Workshop vai discutir os resultados da parceria até o momento e os rumos para o futuro

O workshop em Brasília vai reunir os 13 cientistas dos três continentes envolvidos na execução do projeto para fazer um balanço dos resultados alcançados até o momento e discutir as ações futuras para a implantação do sistema “push-pull” para os pequenos agricultores de algodão do nordeste do Brasil.

De acordo com o pesquisador, é bem provável que o projeto seja prorrogado e passe a abranger também outras pragas agrícolas nocivas à cotonicultura brasileira, como lagartas e mariposas.

Após a realização do workshop em Brasília, o grupo de cientistas das três instituições visitarão a Embrapa Milho e Sorgo para discutirem a implantação do sistema “push-pull” para pequenos produtores de milho principalmente no norte de Minas Gerais.

O Workshop Brasil-África acontece nos dias 21 e 22 de setembro na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, DF.

Fonte: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
(61) 3448-4769 e 3340-3672

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